o post mais atrasado da História

Já faz quase um mês ( ou mais, sei lá) que meu pobre blog está desatualizado,  um mês que foi insano pra mim, não só pelo trabalho, mas por conta das dificuldades que surgiram em relação à segunda parte do meu intercâmbio e que tomaram toda minha energia mental (sei que isso não justifica tal negligência), um mês que apesar de todos os perrengues foi muito feliz, e como em todas as épocas por demais felizes.. não sobrava tempo pra nada. Mas, agora, depois de muita água rolando, eu estou no Cairo, e finalmente estou podendo escrever denovo (apesar de internet aqui ser a coisa mais complicada do universo de se conseguir). Confesso que com tudo que se passou tenho vontade de começar minhas divagações intermináveis,  posso até fazer isso, mas não hoje, não nesse post. Hoje eu venho aqui especialmente pra prestar contas, pra explicar como foi gasto o dinheiro que foi enviado do Brasil pra Mumo, pra dizer pra quem ainda não ouviu o quanto eu fiquei feliz na hora em que assinamos os papéis da compra da nova escola.

Já fazia um bom tempo que eu sabia que tinha completado os 4 mil dólares necessários pra fechar o negócio (mesmo com a desvalorização do real nesse período), mas estive esperando até a minha última semana no Quênia pra que a minha mãe transferisse o dinheiro, porque queria ter condições de arrecadar o máximo pra a biblioteca nova. Com isso, na sexta feira, dia 23 de setembro, tínhamos atingido o valor de 5300 dólares, dos quais 1300 restaram para a compra dos livros.

Minha penúltima semana no país eu não passei em Nairobi,  então me programei pra fechar o contrato da Escola antes de viajar, contudo, devido a vários problemas com o banco, o dinheiro não chegou a tempo, e eu tive que remarcar a reunião com o vendendor, as testemunhas, o chefe do distrito, etc, etc.. pra depois da minha volta, que seria numa quinta feira, se eu não tivesse perdido o ônibus e não tivesse sido obrigada a ficar fora mais um dia. A reunião finalmente aconteceu na sexta, na favela. Contudo,  todavia,  entretanto,  o que era pra ser resolvido de uma da tarde, só se procedeu à noitinha (primeira vez que eu estive na favela lá sem a luz do sol), por culpa dos bancos mais uma vez. Essa tarde foi tragicômica, sem dinheiro pra almoçar,  sem dinheiro no cartão,  sem dinheiro pro matatu, e com todos os bancos boicotando nossas vidas, conseguir sacar o valor das doações às cinco da tarde (após o horário de fechamento das malditas casas financeiras), conseguir chegar em Mathare (mesmo depois de descobrir que os matatus normais não funcionavam naquela hora), encontrar todo mundo esperando a gente, e conseguir resolver toda a papelada à luz de velas (quem é que tem eletricidade na favela?) foi simplesmente um milagre, quando se acabou eu não conseguia acreditar que a gente tinha conseguido.

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Acho que até agora a ficha não caiu de verdade, tudo que eu passei, todas as dificuldades, as horas em que eu realmente achei que teria que desistir de tão super complicado que estava sendo todo o processo (a gente sem achar o lugar ideal no começo,  as broncas com o advogado, minha temporária descrença na nossa capacidade de arrecadar todo o dinheiro). As coisas vão acontecendo tão rápido que não dá tempo de absorver,  de entender.  Mas é muito bom ver que passamos por tudo com um sorriso no rosto e que no fim o resultado foi o melhor possível! 

Esse último dia foi também minha última chance de ver minhas crianças, e eu só soube disso lá na hora. Elas estavam todas me esperando e eu só tive 5 minutos pra dar um adeus para o qual eu não estava preparada. Chorei de saudade antecipada, abracei cada um, e posso nem lembrar disso agora que chega dá um aperto no peito. Como eu queria carregá-los comigo pra ver o mundo.Três dias depois eu deixei o país, sabendo que tinha vivido ali algo absolutamente inexplicável, mágico, uma experiência super aconselhável a qualquer um (rico, pobre, velho, novo, medroso, corajoso…..)

*Infelizmente não consegui cumprir o meu planejamento de comprar os livros nesses dias por conta de alguns problemas com Christopher (o diretor) que deveria ir comigo. Por conta disso achamos mais responsável deixar o dinheiro com Margherita (italiana, muito minha amiga, que começou a trabalhar na Mumo em agosto, e que estava acompanhando tudo comigo)  pra que a compra não fosse feita com pressa. Ela e Christopher vão terminar de resolver tudo nesses dias, e eu vou postar tudo bem explicadinho por aqui, com fotos.Se alguém tiver interesse em continuar doando para a manutenção da escola, mesmo sem a minha pessoa por lá,  favor entrar em contato comigo que eu explico direitinho como isso é possível. Enviado do tablet Samsung

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  1. Olá Gabriela, bom dia… como está? Meu nome é Glauco Tavares e gostaria muito de conversar com você sobre este projeto… vc poderia me retornar? Meu email é glauco.tavares@shsf.org.br. Grande abraço e cuide-se.

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