Apenas mais uma semana

Já que meu tempo é curto pra escrever,  e o de vocês é curto pra ler, vou começar pelo que mais interessa a todos: a campanha!  Tenho novidades ótimas, lindas, maravilhosas!  Graças a vocês (a quem nunca serei suficientemente grata) conseguimos o nosso objetivo inicial ! 
Isso mesmo. Falta uma semana pra encerrar a campanha e nós já atingimos os nove mil reais a que nos pretendemos! Apesar do dólar estar em alta, nosso real estar mal das pernas, sei que com pouquíssimo mais (de doações que estão pra chegar nesses dias) a gente fecha negócio. Portanto, posso dizer que a escola nova já é uma realidade (mesmo que a mudança mesmo só ocorra daqui a dois meses – quando não estarei mais aqui, mas tudo será acompanhado, e repassado com detalhes pra nós,  por Cristina, colombiana de minha mais altíssima confiança).
 
Tudo muito ótimo, tudo muito bem..mas quem me conhece sabe que eu não sossego fácil, e atingir um objetivo como esse só me mostra que nós podemos fazer ainda mais!
Uma semana pessoal, temos mais uma semana pra fazer o possível e o impossível por aquelas crianças. Prometo me matar de trabalhar aqui, mas, mais uma vez, preciso de vocês! 
 
A segunda notícia perfeita do dia é que estou esperando entrar na minha conta o depósito de um antigo professor que doou o suficiente para comprar os livros didáticos de todos os alunos. 270 livros no total, de ciências, estudos sociais, matemática, inglês e swahili.
 
O que falta então pra essa última semana? O que mais podemos fazer?? Pra quê mais dinheiro?
Uma biblioteca!  Esse é o plano. Livros (escolhidos a dedo, com muito amor) que ajudem meus (nossos) meninos e meninas a irem além da decoreba! E a melhor parte: esse espaço (que será estruturado no novo local da Mumo) estará à disposição não só dos alunos, mas também dos moradores de Mathare!
Ou seja, todo o dinheiro que for depositado na minha conta a partir de agora vai virar livro! O tamanho da nossa biblioteca vai depender de vocês! 
Image
 
Novamente, muitíssimo obrigada a todo mundo que vem acompanhando, e ajudando e compartilhando essa ideia! 
 
 
A partir daqui, continuem lendo apenas os interessados em mais relatos da minha rotina:
 
Antes de mais nada, um desabafo: fazer negócio com quenianos é a maior dor de cabeça que eu podia arrumar pra minha vida.. ô povo complicado. Comprar um anel na feira é estressante , comprar uma escola nova então…
Tive que encontrar um advogado na terça, e quase que choro na frente do homem, diante da fortuna que ele queria me cobrar. Horas de enrolação por parte dele, e drama por minha conta, e ele disse que ia trabalhar de graça (mas eu teria que dar ainda 10.000 xelins pra ele ‘facilitar’ as coisas). Felizmente não precisamos mais dele. Depois de eu surtar tentando negociar diretamente com o vendedor da casa no dia seguinte, saí atrás de ajuda de Deus e o mundo (pelas escolas da favela) e consegui acalmar meu coração! 
Uma estudante de direito da AIESEC vai me dar o help que eu tô precisando, e ter alguém confiável, que entenda o que está fazendo,  e fale inglês decentemente, é tudo que eu mais queria agora!
 
Depois de dois dias gastando todos os meus neurônios pra lidar com os empecilhos que continuaram surgindo (ainda tive a alegria de quase perder 1000 xelins no matatu e receber uma proposta de casamento do mesmo sujeito que queria levar meu dinheiro), hoje eu pude dar quase férias ao meu cérebro.  Passei o dia em paz, cortando alumínio, e colocando silicone nas garrafas que vão virar lâmpadas na segunda-feira. Como meu companheiro de trabalho era um mulçumano, fiquei quase o dia todo sem comer, jejuando com ele (esse Ramadã não acaba nunca), mas assim que ele virou a esquina pra ir pra casa, corri pra comprar uma mini barrinha de chocolate – pecado do dia.
 
Amanhã tô indo pra Osupuko, o interior de que tanto já falei. Fico só até domingo. E o que começou como um retiro solitário da minha pessoa já virou uma verdadeira excursão.  Somos 8 agora, e a casa pra onde vamos só tem 5 camas (mas a gente se vira)! O plano é levar as lâmpadas de garrafa pra escola e casas de lá,  além de fazermos algumas atividades com as 400 crianças do local (mas eu conto os detalhes quando eu voltar).
Saliente-se que fico tão feliz de ver que até uma ideia sem pé nem cabeça feito essa minha, de ir prum fim de mundo que ninguém aqui conhece,  pra passar o fim-de-semana trabalhando,  conseguiu tantos adeptos em algumas horas, e sem convites. Nada como ver a disposição alheia pra a gente se empolgar ainda mais.

Leave a comment