fez-se a luz

Nesse sábado a madrugada é pra comemoção do aniversário do búlgaro, então eu aproveitei que saiu quase todo mundo de casa (só estamos eu, Noah e Assumpta – os quenianos) pra colocar minha vida em dia, já que é o único tempinho de paz que eu tenho hoje (aliás, é o único tempinho de paz que eu tenho em muito tempo).

Por ordem cronológica, preciso contar sobre minha quarta-feira, o dia em que eu deveria ter ido pra o prédio -quase- mais alto de Nairobi com as crianças, mas resolvi ficar na favela, em outra escola, pra aprender como fazer lâmpadas de garrafa.

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Na terça os meninos (que trabalham pela AIESEC também) foram lá na Mumo nos levar a luz, e o resultado foi maravilhoso! O escuro na sala de aula foi um dos meus maiores choques nos primeiros dias, mas agora ficou muito melhor, e todo o processo foi super barato. Por conta disso resolvi que eu tinha que entender a operação pra fazer o mesmo no Brasil, então minha quinta foi toda assim, cortando alumínio (e os dedos), colando garrafa, subindo no teto, cortando o teto, colando o teto, e ‘fazendo a luz’ nas outras escolas, já que não pude fazer na minha!

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Pra completar, de noite foi uma galera enorme pra um rodízio brasileiro, e eu pude pedir minha comida em português! Dia super feliz, apesar de certos pesares, porque, antes disso, no matatu pra chegar lá, fomos bastante maltratados. O cobrador queria que a gente pagasse mais porque não sabia que a gente sabia o preço, e quando nos recusamos ele tentou nos expulsar, na maior grosseria. Como não saímos ele se recusou a parar no nosso ponto e tivemos que andar um bocado num lugar desconhecido, de noite. E ele fez isso enquanto os outros quenianos gritavam pra ele parar, defendendo a gente. Essa mania deles de aumentarem os preços de tudo (até do ônibus), toda vez que tem algum mzungo, irrita demais. Tratam a gente como se fôssemos uns grandes idiotas.

Na quinta foi o último dia de escola de Melanie, ela chorou, eu chorei, teve criança chorando, mas mesmo assim a gente tava muito feliz com tudo, de estar ali, de estarmos vivendo tudo isso! E as crianças ainda nos presentearam com cabelos novos, no estilo queniano, foi muito amor.

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Sexta foi dia de acordar tarde (porque saímos na quinta – despedida de Melanie, Daniel e Jen) e correr pra cidade pra chegar no hospital. A gente perdeu a hora, tive que almoçar no balcão dum supermercado, e aí, com uma sorte imensa, encontramos uma queniana que tava indo pro hospital também! Chegamos atrasados, mas chegamos! Já fui recebida com ataque de crianças que pulavam nas minhas costas. Minha terceira visita lá não é nem comparável à primeira. Dessa vez nada de choro ou tristeza, conversei com os pequenos sobre amenidades da vida, pulei, dancei, carreguei eles nos braços pra todos os lados, e saí de lá com a certeza de que vale muito a pena, muito mesmo, enfrentar esse choque inicial que faz a gente ter vontade de correr desses lugares ‘feios’, porque leva um tempo mesmo até que a gente aprenda a ver a beleza dali. Pode soar muito piegas tudo isso, mas a verdade é que acordei no dia seguinte com vontade de voltar imediatamente pro hospital.

Hoje eu tô de pé desde cedo, tive uns estresses com a dona da casa de manhã (mas graças a Deus já tô bem mais tranquila com isso), e fiz brigadeiro pra colocar no bolo do aniversário do búlgaro. Foi meio triste que todo mundo saiu de casa..só tinha três pessoas pra cantar ‘parabéns’, mas ele ficou tão feliz!

Por último, mas o mais importante: só tá faltando 300 dólares pra completar o valor da escola nova !!! O que não significa que a campanha tá parando, muito pelo contrário! Alcançado nosso objetivo inicial, o plano será a compra de livros pras crianças (como eu já expliquei, atualmente tem um livro pra cada 4 alunos)!

Tô com fé que vamos conseguir tudinho! Graças a ajuda de vocês! Não canso de agradecer todo dia!

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(a Mumo iluminada)

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