A busca.

Tenho que começar hoje agradecendo por cada compartilhamento ou curtida de facebook, cada mensagem de apoio que eu tenho recebido, toda a força que vocês têm dado pra campanha e pra absolutamente tudo que eu faço. Saio pra pegar meu matatu todo dia feliz da vida depois de ler as mensagens que me mandam (desculpem a falta de resposta, prometo que demora, mas chega), e é engraçado ver vocês tratando meu trabalho aqui como algo tão extraordinário, quando pra mim é só minha rotina (que eu adoro, claro, que é cheia de novidades, mas nada de super heróis, só gente ‘normal’ no meio). Sempre bom lembrar que ainda não aprendi a operar milagres, e que não tô fazendo nada que qualquer um de vocês não possa fazer também. No fim das contas, só estou num país diferente.

Mas vamos ao que interessa: ontem não mandei notícias porque a internet tava ruim (tem 10 pessoas dividindo um wi fi nessa casa), eu tava cansada (fui dormir antes de nove da noite), e eu ainda não tinha tantas novidades assim (sobre a campanha). Acontece que desde que eu coloquei na minha cabeça que queria comprar um local novo pra Mumo, eu conversei com Christopher (diretor da escola) pra eles procurarem por ali o que seria a nossa feliz futura aquisição, mas não é fácil de achar. Graças à minha chatice ímpar, eu tô aperreando eles tanto que eles não fazem mais outra coisa da vida além disso, mas nesse fim de semana Christopher tava fora por causa do julgamento do assassinato do irmão dele em outra cidade (ainda conto essa estória direito aqui), então estávamos até hoje sem grandes perspectivas.

Massss, boas notícias vieram – depois de muita reza entre um cochilo e outro no intervalo das aulas – e finalmente temos algumas opçöes. Até agora temos três locais pra escolher, mas só um deles está parecendo realmente viável (um é muito pequeno e o outro é do lado de um bar, cheio de bêbados durante o dia todo). O preço está um pouco acima do que eu tinha planejado inicialmente, mas tem a vantagem de lá sem um tanto maior que a atual escola, então as crianças sairiam do aperto que tá hoje em dia, e isso iria diminuir bastante o barulho durante as aulas, porque dá pra fazer salas separadas pra eles.

Fui lá hoje com o ‘corretor’ e os dois professores, é perto da Mumo, um pouquinho menos sujo, construído de barro também, e tá valendo 350.000 shellings (aproximadamente R$ 9.100,00). No último post coloquei o valor em dólares, espero que isso não tenha confundido ninguém, mas fica em torno de $ 4.000,00.  Agora tô correndo atrás de um monte de gente, pessoal da AIESEC, advogados, gente de outras ONGs lá da favela, pra ter segurança em tudo que estamos fazendo. Amanhã vou visitar outra escola de Mathare que comprou um terreno faz pouco tempo (e é bancada basicamente por brasileiros, e tem um voluntário brasileiro que eu conheci no matatu hoje!) pra ver exatamente como foi todo o processo de aquisição dessa sala nova deles.

Tudo isso, claro, só terá sentindo se conseguirmos arrecadar todo o dinheiro necessário, mas se não, estamos trabalhando nas outras necessidades da escola, como por exemplo o café da manhã das crianças, que seria em torno de R$ 700;00 por mês (já que atualmente muitos só têm uma refeição por dia), o pagamento do salário de um novo professor por algum tempo – R$ 200,00 por mês -, livros novos (ainda não tenho os preços), entre outras coisas que ainda estamos vendo se entram na lista de prioridades ou não.

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(nosso almoço sendo preparado)

Por último, mudando um pouquinho o rumo da conversa, preciso contar que ontem fomos eu e Daniel pra escola, junto com Nour (uma egípcia, amiga minha, que tava sem fazer nada nas segundas e quartas e resolveu que vai ficar trabalhando lá nesses dias). Só tava lá a professora contratada, mas ela tava doente e precisou ir pra casa. E aí entra a parte interessante, eu tive que cuidar da escola toda, virei a ‘diretora’, e tive que operar o milagre da multiplicação dos professores. Éramos 3 pra 7 turmas. Deixei uma turma com Daniel, uma com Nour, e fiz malabarismo com as outras, exercício pra uns, livros pra outros, aula pra uns poucos. Senti na pele o que eles passam todo dia pra arrumar alguma atividade pra aquelas crianças todas, e muitas vezes Winnie (a tal professora) fica sozinha lá, e tem que se virar, seja como for.

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(sala da Mumo School atualmente)

Sei que já falei ‘por último’ no parágrafo acima, mas esqueci uns detalhes rápidos: depois de fechado o negócio pra comprar uma sala nova pra escola, as crianças só poderão se mudar pra lá com dois meses (a lei queniana dá esse tempo para os atuais moradores arrumarem outro canto), ou seja, eu já estarei no Egito, ou sabe-se lá onde. Por conta disso, conversei com uma amiga colombiana (super gente boa – a mesma que me ajuda com o projeto do ‘vestibular cidadão’) que mora aqui comigo, e que vai ficar bem mais tempo no Quênia, e ela se responsabilizou por acompanhar todo o processo da mudança de perto, até porque ela também trabalha em Mathare (isso além de algumas pessoas da AIESEC que também vão participar de tudo, desde o começo – tenho até reunião com eles amanhã sobre isso).

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